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quarta-feira, 9 de maio de 2012

Venezuela, Isla Margarita e Curaçao

Venezuela, Isla Margarita e Curaçao
Aventura pela Venezuela e Caribe com 20 mil milhas.

Introdução.
vista de Caracas
Há alguns anos atrás, a Miriam e eu, planejamos viajar ao Caribe utilizando nossas milhas acumuladas no cartão de crédito. Porém no programa de milhagem “Smiles”, eram necessárias quarenta mil milhas por pessoa, (ida e volta) isso totalizava Oitenta mil pontos ou milhas, quantidade que não estávamos dispostos a desperdiçar, pois é possível viajar dentro da América do Sul com 20.000 pontos ou milhas.
Plaza Altamira - Chacao Caracas
Decidimos então aproveitar a oportunidade para conhecer a Venezuela em uma viagem de “Aventura”, ou seja, com a mochila nas costas e sem destinos pré-estabelecidos e sem reservas em hotéis. Iríamos desbravar a Venezuela e depois então, ir para “Isla Margarita” e para a charmosa “Curaçao” nas Antilhas Holandesas. Estamos postando agora em 2012 mas esta viagem aconteceu em Novembro de 2004 e como o “Bolivar”, moeda Venezuelana estava em constante desvalorização, converti os preços para o dólar norte americano da época, para que possa ter uma idéia melhor sobre os preços no país de “Hugo Chaves”.

Começo da Aventura.

Caracas Venezuela
Aproximadamente 6 horas depois de deixar São Paulo, as 22h30 do dia 09 de Novembro, desembarcamos em Caracas. Logo na saída do aeroporto, é comum ser abordado por uma avalanche de taxistas para lhe oferecer o transporte. Convém “pechinchar” porque sempre se consegue algum desconto, pagamos US$ 20,00, preço bastante razoável calculando que são mais de 30 km a distancia entre o aeroporto e o centro de Caracas e ele ainda pacientemente nos levou a vários hotéis até elegermos um de bom custo benefício. Nosso taxista foi o Sr. Edgar, fone 377-2284.
Optamos pela região de “Sabana Grande” que é servida com muitos hotéis, restaurantes e casas de Rumba. Ficamos no “hotel Gabial”, Av. Las Acacias fone (582) 793-1156, simples, mas agradável e muito bem localizado. Preço da diária para casal na época foi US$ 30,00.

10 de Novembro
Caracas.
Favelas de Caracas
Caracas é a capital federal da Republica Bolivariana da Venezuela e seu nome oficial é: “Santiago de León de Caracas” e terra natal de duas figuras ilustres na história da America Latina: Simon Bolivar e Francisco de Miranda.
Estávamos ansiosos para conhecer mais esta capital sul-americana, então levantamos cedo e fomos caminhar pelo centro da Cidade. Que desilusão, se a primeira impressão é a que fica, ficou uma péssima. O centro da cidade é um enorme “camelódromo”, milhares de barracas ocupam de maneira desordenada as calçadas ruas e praças. Procuramos com dificuldade alguns bons ângulos para tirar fotos dos ícones da cidade e almoçamos uma “Paella”, prato executivo por US$ 7,00 que não valeu o preço. À noite fomos a uma “Rumbaria” uma espécie de “PUB” com pista de dança, boa música e cerveja barata, US$ 1,00 cada “long-neck”. Divertimos bastante e foi o que valeu o dia.

11 de Novembro
Passeio para “Colônia Tovar”
Colônia Tovar
As duas horas de diferença do nosso fuso horário me fizeram acordar mais cedo do que pretendia, já que tínhamos saído da “Rumbaria” pela madrugada, pensei em acordar um pouco mais tarde, mas não teve jeito, o sol se levantou e eu me levantei também. Procuramos uma cafeteria, pois o hotel não inclui o desjejum em sua diária. Duas xícaras de café com leite e quatro pequenos croissants custaram US$ 4,70.

 Tomamos o Metrô na estação “Plaza Venezuela”, que fica em "Sabana Grande", bem próximo ao hotel, e na estação “Capitólio” trocamos para a linha 2 até a estação Silêncio. A partir daqui anda-se aproximadamente 3 a 4 quadras até a “Av. Lecuna” e ali pega-se um velho ônibus para o “Pueblito de Junquito” onde fizemos uma baldeação para uma “Wagonette” mais velha ainda que sobe a montanha por mais 45 minutos até que finalmente chegamos na linda “Colônia Tovar”.
Colônia Tovar
Metrô, US$ 0,22 + ônibus, US$ 0,40 e a Wagonette, US$ 1,00. O transporte público na Venezuela  é caótico, mas é muito barato devido ao baixo custo dos combustíveis. Um litro de gasolina sai menos de 0,10 centavos de dólar o que não chega a 0,18 centavos de real. Dá pra acreditar?
Situada a cerca de 2000 metros de altitude,“Colônia Tovar” foi fundada em 1843 por 391 imigrantes vindo de “Baden” região a sudoeste da Alemanha. Hoje ela abriga cerca de 16.000 habitantes, mas aumenta bastante nas temporadas. Aproximadamente do tamanho da também linda cidade de “Monte Verde” na Serra da Mantiqueira, ela é linda e faz valer a pena cada minuto gasto para chegar até aqui.

Com toda a arquitetura em estilo Alemão e lojinhas lindamente decoradas com floreiras e lindas cortinas rendadas, oferecem compotas, doces de leite, chocolates e muitos tipos de pães artesanais realmente deliciosos.  Almoçamos em um luxuoso restaurante chamado “Rebstock” (Rua Codazzi, 8 f. 355-1174) Comemos truta com camarão chileno, US$ 7,60 e truta a la plancha, US$ 6,45. Os preços aqui são acrescidos dos tradicionais 10% mas, existe ainda mais 1% de fundo de turismo e mais 16% de IVA, portanto uma conta de US$ 19,00 virou US$ 24,00.
Indicadores em Colônia Tovar
Igreja Central, Colônia Tovar


Convém lembrar que o Metrô cobra pelo número de estações ou por distância percorrida, deve-se passar o bilhete na catraca para entrar e sair, por isso nunca jogue fora o bilhete.


12 de Novembro
Saida para “Puerto la Cruz”
Puerto La Cruz
Na Venezuela, quase não se usa os termos leste e oeste, usa-se oriente e ocidente, portanto o terminal rodoviário com saídas para o leste chama-se Terminal Oriente e fica cerca de 10 km. do centro de Caracas, é possível ir de metrô.  Como estávamos com grandes mochilas, preferimos tomar um taxi que negociamos por US$ 5,00. No guichê da empresa de ônibus é que ficamos sabendo que nenhuma empresa aceita cartões de credito, somente a dinheiro, então procuramos alguém que pudesse fazer o cambio. Em uma padaria no andar superior do Terminal Rodoviário, tem um simpático português da Ilha da Madeira que trocou US$ 100,00 com uma cotação honesta. Compramos as passagens de ônibus executivo que é um pouco mais caro, mas tem ar condicionado, US$ 8,25. Chegamos a “Puerto la Cruz” por volta das 16h e bastou andar três quadras e já estávamos no “Passeo Colon”, uma bonita avenida a beira mar onde nos hospedamos no “Hotel Gaeta” . Diárias a US$ 27,00 mais US$ 5,00 pelo café da manhã.
Puerto La Cruz
13 de Novembro
Contratamos em uma agencia de turismo local, um tour pelas ilhas em frente da baia, custa US$ 34,00 com o almoço incluso, porém na última hora por falta de mais passageiros, o  passeio foi transferido para o dia seguinte. Para não perder o dia, pegamos um pequeno barco por US$ 4,25 que faz transporte de passageiros local entre o continente e uma das ilhas do “Parque Nacional Mochima”. Passamos um agradável dia na praia de “Puynare” num “Dolce far ninte”, apenas tomando algumas cervejinhas “Polar” sob uma frondosa sombra de um forte sol equatorial.
Polar, Cerveja Venezuelana
No final do dia, fomos ao terminal “Conferry” comprar as passagens para no dia seguinte embarcarmos para a “Isla Margarita”, optamos pelo expresso, um pouco mais caro, mas bem mais rápido, faz a travessia em apenas duas horas por US$ 16,60 cada. É bom lembrar que para comprar os bilhetes do “Ferry” é preciso preencher um formulário e levar fotocópias do passaporte ou bilhete de identidade, portanto providencie com antecedência.

14 de Novembro
“Isla Margarita”
Quem batizou esta ilha com este nome Greco-Latino foi Cristóvão Colombo em 15 de Agosto de 1498, pois “Margarita originalmente, significa pérola e não aquela linda flor de nome bastante parecido. E até hoje a ilha é grande produtora de pérolas e pode-se comprá-las com preços bastante convidativos até mesmo de ambulantes nas praias da ilha, mas se você não é um conhecedor para identificar as naturais das industrializadas, recomendo que compre em lojas especializadas.
Ferry para Isla Margarita
Esta manhã eu lamentei perder os US$ 5,00 que paguei antecipado pelo desjejum, mas acordamos um pouco tarde e tivemos que correr para pegar o “Ferry” que parte pontualmente às 8 horas. A viagem foi bem tranqüila, o mar estava uma verdadeira “taza de leche”, desembarcamos e logo fomos cercados por vários taxistas que ofereciam fazer o transporte até o centro de “Porlamar”, porém,  preferimos tomar o micro ônibus por US$ 0,80 e apreciar o pitoresco e alegre espírito caribenho do povo ilhéu. O radio do ônibus a todo volume, tocava sem parar as rumbas, merengues, calypsos e outros gêneros musicais muito populares por aqui.
Deixamos guardada nossas pesadas mochilas em uma loja de propriedade de um senhor que conhecemos no ônibus, para podermos passear  pela cidade de “Porlamar” com mais segurança e facilidade. Infelizmente a cidade não oferece muitos atrativos turísticos. Retiramos de volta nossas mochilas e apanhamos um taxi com destino a linda praia de “El água”. ( US$ 5,00 por um percurso de aproximadamente 15 km.)
Hotel Flamboyant
Como não tinha reserva de hotel, seguimos a avenida paralela a praia que tem muitos hotéis e procuramos um que fosse simpático com o melhor custo benefício. O hotel “Flamboyant” foi o eleito. Com sistema “All inclusive”, oferece café da manhã, almoço, breaks, jantar, e todas as bebidas que conseguir tomar nos bares instalados ao lado da piscina e outro na praia. Tudo ao preço de US$ 42,00 por pessoa, e nas noites ainda tivemos “Shows” folclórico e de dança, no palco instalado próximo ao bar da piscina.

15 de Novembro
Dia de praia
Praia El Agua
Praia El Agua
Hoje passamos o dia todo curtindo este estupendo mar caribenho de águas cristalinas. Como o hotel mantém um bar na praia, pode-se beber  o que quiser sem acrescentar um centavo na sua diária, então passei o dia deitado nas confortáveis espreguiçadeiras tomando, “margaritas, daikiris, cuba libres, sex on the beachs, pina coladas, mojitos, caipirinhas etc.” e mais de dez diferentes marcas de cervejas. Passamos o dia nesse ritmo, praia, bar, praia, bar, praia, bar. Ufa, que canseira, não é fácil essa vida. Quando o sol se pôs, voltamos ao hotel para descansar e passamos a noite na piscina e no bar do hotel. Afinal ninguém é de ferro.

16 de Novembro
Tour pela Ilha
Tour em Jeep 4x4
Marcamos um tour em “Jeep 4x4” ao redor da ilha. Por US$ 25,00 por pessoa, o comboio saiu as 9 horas e a primeira parada foi na capital da ilha, “La Asuncion” que apesar de ser a capital é um pequeno “pueblo” entre as verdejantes montanhas. Visitamos um velho forte construído em 1618 e em seguida fomos para outro pequeno e bucólico “pueblito Valle Del Espiritu Santo” onde, segundo nosso guia, é o “pueblo” mais católico e alcoólico da ilha, o povo vai a igreja e depois para as bodegas. Talvez o clima um pouquinho mais fresco faça este povoado ter o maior índice per capita em consumo de álcool. Aqui, visitamos também a catedral dedicada a “Virgem Del Valle” e o comércio local.
Proxima parada, “Laguna Restinga” onde fizemos um passeio de barco pelo mangue e pudemos visualizar muitos pássaros e sentir nas mãos os pequenos e curiosos cavalos marinho e varias espécies de estrelas do mar. Após fomos para a “Playa de Punta Arenas” onde almoçamos e tiramos uma pequena “siesta” na praia. Ainda dentro da “Península de Macanau” fomos a “Playa Virgem La Carmela”, uma paradinha para abastecer nosso tanque com cervejinhas geladas, depois seguimos para “Pueblo Juan Griego” fazendo mais uma paradinha  em um simpático “Parador”, afinal o calor equatorial é quase insuportável,  aqui provamos a fantástica “Cocada” (US$ 1,00) que é o seguinte: Água de coco batido com a polpa do coco mais açúcar, canela e um pouco de gelo. É uma delícia e vai aqui uma palavrinha local que vale a pena aprender, “Nhapa ou Nhapita” tem o mesmo significado da nossa “Choradinha”, ou seja, pedir mais um pouco sem pagar mais.
Parada para reabastecer as cervejas
Em “Juan Griego” visitamos o comercio local e o Porto Livre, em seguida partimos para o mirador ”Puerto Constanza” onde apreciamos o sempre magnífico por do Sol.
O tour terminou por volta das 18h30, faziam parte do pacote todas as cervejas ou refrigerantes que pudemos beber e que foram transportados em grandes caixas térmicas sobre os “Jippes”, e ainda o almoço e o passeio de barco. Realmente vale o preço. Fomos deixados na porta do nosso hotel e depois de um revigorante banho,  jantamos e ainda tivemos o prazer de assistir um show de dança folclórica no palco a beira da piscina tomando mais algumas “Pina coladas”.

17 de Novembro
Isla Margarita
Hoje foi mais um daqueles dias, praia, bar, praia, bar, praia, bar. Estendido nas grandes e confortáveis espreguiçadeiras e tomando os mais variados tipos de “drinks” e apreciando o belo mar caribenho. Acreditem o mar é tão bonito que eu nem olhei para todas as moças de “top-less” que que se bronzeavam ao sol . Ufa que canseira.

18 de Novembro
Passeio de Catamarã.
Passeio de Catamarâ
Partimos para um passeio no “Catamarã  Moon Dancing”. Assim que deixamos o porto de “Pampatar” o animado marinheiro já abriu o bar e ligou o som com as contagiantes “Rumbas, Calypsus, Cha chá chás, Merengues, Salsas, Reggaes etc. até chegarmos a “Isla de Coche”, areia muito branca e água super cristalina. Fomos desembarcados por outros pequenos barcos de madeira. Na ilha, a empresa do Catamarã já havia reservado para todo o grupo, práticos guarda-sóis com confortáveis cadeiras de praia. Alguns nativos ofereciam ostras ao preço de US$ 1,00 a dezena, comemos algumas acompanhadas com cerveja brasileira que o pessoal de bordo já tinha trazido para o improvisado bar de praia. O almoço foi servido em um rústico, mas agradável restaurante que emoldura a cena das lindas lagoas formadas pela água da maré alta, que fica represada na vasta extensão de areia onde dezenas de jovens praticam o “Kitesurfing” completando com o azul deste lindo dia de sol o colorido a este magnífico quadro. Depois de tomar sol, banho de mar e cerveja, não necessariamente nesta ordem, voltamos ao Catamarã onde continuou a festa até desembarcarmos novamente no porto de origem.
O colorido dos Kitesurfing




19 de Novembro
Último dia na Ilha Margarita.
Bar de praia do hotel Flamboyant
Enquanto a simpática Sra. Giovana, (dona de uma agencia de turismo local) cuidava de providenciar nossas passagens para Caracas, em um vôo da “Laser Air” (US$ 58,00), passamos o dia todo nesta paradisíaca praia de “El Água”. É nosso último dia nesta ilha então nos regalamos até que o último raio de sol nos deixasse. Conhecemos na praia, um alegre casal de venezuelanos que me agradeceu bastante pelo simples fato de ajudá-los a montar suas cadeiras que insistiam em promover uma feroz luta contra a pobre senhora  que já estava emaranhada com as ferragens da fatídica e sinistra cadeira. Após mais alguns “drinks” jantamos e curtimos boa parte do “show” desta noite com muita música e dança.

20 de Novembro
De volta ao Continente.
Combinamos com um taxista para nos apanhar as cinco horas da manhã no hotel  e ir até o aeroporto. Partindo da praia de “El Água”, são 27 km. e custou US$ 10,00.
Santa Ana de Coro
Entre “Isla Margarita” e Caracas, tivemos aproximadamente 50 minutos de vôo. Ao desembarcarmos, por mais US$ 10,00 tomamos um taxi direto para o terminal de ônibus “La Bandera”  de onde partem todos os ônibus com destino ao Ocidente, ou Oeste como falamos no Brasil. Este terminal é bem diferente do outro, o terminal Oriente é limpo e organizado, este é uma bagunça generalizada. Centenas de pessoas se amontoam em frente aos guichês sem organizar sequer uma fila. A Miriam e eu ficamos em guichês diferentes para aumentar as chances de sermos atendidos e após alguns minutos consegui, mas tive uma decepção. Tinha planejado ir para “Santa Ana de Coro” que é a mais antiga cidades do  país e foi sua primeira capital. Fundada em 1527, foi toda construída em estilo colonial e fica na costa da Venezuela de onde partem barcos que cobrem à pequena distancia de apenas 15 milhas entre o continente e a paradisíaca ilha de Aruba. Era apenas 9h30 da manhã e o único ônibus que tinha lugar, partia às 8h da noite. “A Miriam no outro guichê teve mais sorte, recebeu uma dica do rapaz que a atendeu. Podíamos tomar um micro-ônibus para “Valência” província de “Carabobo” e de lá outro para “Coro” província de Falcón”. Ótima idéia, descemos para o piso térreo procurando a sinalização até levarmos um pequeno susto ao ler: “Busetas para Valência” mas tenha calma, se escreve com “S”, é apenas a forma diminutiva de “Bus”. Tinha “Busetas” novas, velhas, grandes, pequenas e até “Busetas” com ar condicionado e todas pela bagatela de US$ 2,50 para cobrir um trajeto de 155 km.
Santa Ana de Coro
Em “Valência” a “Buseta”, parou do lado de fora do terminal rodoviário, então tivemos que passar por uma catraca e pagar US$ 0,10 para poder entrar na rodoviária. De “Valência” até “Coro” foram mais 291 km e custou US$ 5,00 em um ônibus grande e confortável com ar condicionado. Tivemos  uma parada no meio do caminho onde a Miriam tomou um refrigerante e comeu 6 pãezinhos típicos da região, ela disse que nunca tinha saboreado pãezinhos tão deliciosos mas, eu particularmente acho que era fome mesmo. Chegamos em “Coro” aproximadamente às 17 horas.
No terminal de “Santa Ana de Coro” tomamos um taxi por US$ 1,00 até o hotel “Miranda Cumberland”  no centro da cidade, após um demorado e gostoso banho fomos caminhar pela estreitas ruas do centro histórico e procurar um restaurante para finalmente ter uma boa refeição depois de um dia bastante agitado.
Iglesia de San Francisco - Coro
A cidade é toda em estilo colonial, como “Paraty” no Rio de Janeiro, mas infelizmente não está muito bem cuidada, vários prédios estão abandonados e uma infinidade de vendedores ambulantes “camelôs” disputando com o comercio oficial, vendendo roupas, quinquilharias e “CDs” piratas de salsa, merengues e rumbas tocadas a todo volume. Ao lado do pequeno aeroporto local encontramos um agradável restaurante onde jantamos uma macarronada com camarão e caranguejo que deixou saudades pelo sabor e pelo baixo preço e com certeza até hoje não encontramos igual.

21 de Novembro
Tiara-air no aeroporto de Punto Fijo
Hoje fomos procurar obter informações mais precisas sobre a travessia de barco para “Aruba e Curaçao”, pois as que eu havia obtido em minhas pesquisas anteriores estavam um pouco contraditórias. Todos nos deram a mesma resposta: O Ferry-boat foi desativado e só é possível ir de “avionetas” ou “Teco-teco” como chamamos em São Paulo esses pequenos aviões. Não me dei por vencido, tomamos um ônibus urbano para o porto “La Vela”. O ônibus mais parece um museu, não só pelo fato de ser velhíssimo, mas também pela decoração de centenas de obras de arte e outros penduricalhos de gosto duvidoso, espalhados pelo painel e pára-brisa do veículo e ainda com o rádio tocando rumbas no mais alto volume possível.
Antigo prédio da Alfândega em La Vela
 “La Vela” é apenas um pequeno povoado e porto de pescadores, mas já teve seus dias de glória quando o movimento de muitos veleiros, lanchas, iates e os grandes  Ferry-boats faziam a ligação entre o continente sul-americano e as ilhas das Antilhas holandesas. Porém, fomos informados que tudo foi desativado devido à grande quantidade de contrabando que ocorria na região, e eu só tenho a lamentar pelas atitudes de típicos políticos do terceiro mundo, que em vez de simplesmente colocar na cadeia os contrabandistas infratores, optam pela “canetada” e criam leis e proibições em detrimento de muitos trabalhadores honestos e outro tanto de turistas. É uma história que estamos cansados de ver por aqui também, onde resolvem diminuir as pesquisas da criminalidade em muitas praças e jardins, apenas fechando a área com grandes cercas ou muros. Ainda bem que nenhum político idiota resolveu demolir a ponte da amizade ou fechar a cidade de Foz do Iguaçu para coibir o contrabando entre o Brasil e o Paraguay.
Anoitecer em La Vela
Com o estômago avisando que era hora do almoço, não tivemos dúvida. Voltamos ao restaurante onde tínhamos jantado na noite anterior e saboreamos salada de camarão com lagosta gratinada. Conversando com o proprietário do restaurante, soubemos que existe aqui em “Santa Ana de Coro” uma grande fazenda que produz camarões, lagostas e outros crustáceos em cativeiro, e isso explica o baixo preço do delicioso produto na região. Depois desse verdadeiro manjar, fomos tirar a “siesta” no hotel a beira da piscina e lá ficamos preguiçosamente até o ultimo raio de sol.

22 de Novembro
Igreja Matriz de La Vela
Atravessamos a larga “Avenida Josefa Camejo” que separa o hotel do portão principal do pequeno “Aeropuerto José Leonardo Chirinas” e fomos nos informar sobre os vôos para Curaçao, No balcão da “Air Caribeam” soubemos que o preço era US$ 195,00 ida e volta e servia as três ilhas das Antilhas Holandesas, Aruba, Curaçao e Bonaire. Os vôos são diários as 9 horas da manhã, excluindo os domingos. Fiquei um pouco surpreso com preço de um vôo tão curto, pois a distância é muito pequena, cerca de 30 km. separam a ilha do continente. Voltei ao hotel onde tem uma agencia de viagens para ver se era possível comprar uma passagem que fizesse as pernas “Coro/Curaçao/Curaçao/Caracas” que seria mais cômodo porque nosso vôo para o Brasil parte de Caracas. Infelizmente não compensava, porque as passagens para os vôos só de ida, custam quase o mesmo preço das passagens de ida e volta. Então decidimos comprar as passagens na tal “avioneta” de oito lugares e fazer o caminho de volta a Caracas de ônibus novamente. Ao chegar ao aeroporto tive a amarga surpresa, só restava um lugar. Fiquei um pouco desiludido com a situação. A Miriam tentou me animar dizendo que essas coisas fazem parte de uma viagem de “Aventura”, temos de nos conformar quando não encontrar transporte na hora que queremos, mas em compensação, não temos compromisso com hora ou data, podemos mudar os nossos destinos a qualquer momento. Então ela sugeriu voltarmos para o aeroporto de Caracas que tem centenas de vôos diários para qualquer ilha do Caribe. Reanimado troquei ali mesmo no aeroporto alguns dólares com um senhor de nome bem sugestivo, (Sr. Magnata) e nos dirigimos ao terminal rodoviário.
Hotel Cumberland
No terminal rodoviário, vários “vendedores”  ofereciam por US$ 7,50 o serviço de lotação para Valência. São verdadeiras “banheiras ambulantes”, carrões antigos americanos fabricados entre os anos 60 e 70. O motorista muito falante nos convenceu e já foi guardando nossas mochilas no gigantesco porta-malas do carrão. Como éramos os únicos estrangeiros entre os passageiros, ele nos contou toda a história da cidade de Coro e sobre o grande produtor de Camarões, Lagostas e outros crustáceos em cativeiro que a cidade se tornou. Esses carros beberrões, não tem muita autonomia, por isso ele teve que parar em um posto para reabastecer, Aproveitei para experimentar a  tal “Arepa” comidas típica venezuelana, é um bolinho de farinha de milho cortado ao meio e recheado com temperos variados e alguns apimentados, o de carne desfiada é o mais popular e o preço foi US$ 1,50. Minha curiosidade me fez também conferir o preço na bomba de gasolina, o tanque era enorme, coube 70 litros e nosso falante motorista pagou todo orgulhoso os US$ 4,00 pelo combustível. Isso mesmo eu vou repetir. Quatro dólares por setenta litros de gasolina, isso faz aproximadamente seis centavos de dólar por litro, ou dez centavos de real. É mole? Entende porque o Sr. Hugo Chaves ainda é presidente por lá.
Parada para abastecimento do nosso "ônibus" lotação
De volta ao caos do terminal “La Bandera”, e debaixo de uma chuva torrencial, tomamos um taxi para o aeroporto. Aqui bateu um arrependimento danado de não ter aguardado a  “Avioneta” do dia seguinte  em “Santa Ana de Coro” no aeroporto “Las Piedras” em “Punto Fijo” ( Quem quiser ir para Aruba, Bonaire ou Curaçau por este caminho, aqui vai o site da companhia aérea. WWW.tiara-air.com ). Em Caracas não havia nenhum lugar em nenhum vôo pra nenhum lugar antes do dia 27 e nosso vôo de retorno ao Brasil estava marcado para o dia 29. Parecia ser o fim de nossa viagem. Mas um bom mochileiro aventureiro não arreda o pé, tínhamos a esperança de ficar em “Standby” fila de espera ou ainda tentar comover algum funcionário de alguma empresa aérea. Conversando com um rapaz que trabalhava negociando dólares nos corredores do aeroporto, nos disse que conseguia nos colocar em um voo da “Aeropostal”, pois sua esposa trabalhava no setor de reservas. Anotou nossos nomes e número dos passaportes em um pequeno papel e sumiu na multidão. Vinte minutos depois voltou com um número dizendo que era o número da nossa reserva e podíamos ir ao balcão da “Aeropostal” para comprar os bilhetes. Meio sem acreditar fui ao balcão e realmente estavam nos computadores os nossos nomes em um voo para “Curaçao”, ficou um pouco mais caro, US$ 220,00, mas paguei com gosto, pois não queria terminar precocemente as nossas férias. Dei uma caixinha de US$ 10,00 ao rapaz que nos prestou tanta gentileza, quando então vi que não era só gentileza, ele disse que dez era pouco e pediu US$ 50,00, pois tinha que repartir com outro funcionário, porem expliquei que tinha pouco dinheiro e que ele deveria ter dito o valor antes de fazer as reservas. Disse também que nós somos “Irmanos Brasileños” e não gringos americanos endinheirados e etc. Em resumo, ficou-nos US$ 10,00. “Passamos a noite próximo ao aeroporto em um hotel bem simples, hotel Tuiassu” por US$ 27,50 e finalmente descansamos do estafante dia.
Chegada em Curaçao

23 de Novembro
Antilhas Holandesas
Ainda com a “pulga atrás da orelha”, meio desconfiado da facilidade com que conseguimos as passagens, nos apresentamos para o “Check-in” no balcão da “Aeropostal” para o voo das 12h30. Alívio total, estava tudo certíssimo, só não sabia que além da taxa de embarque que já estava incluída no preço da passagem, tem mais uma que o “Chaves” copiou do “Sarney” , um imposto de US$ 43,00 para quem sai do país.
Desembarcamos em “Curaçao” depois de aproximadamente  40 minutos de voo. Após algumas perguntas a um funcionário do aeroporto, já tinha todas as informações sobre ônibus, preço e direção para o centro da cidade. Na realidade não tem muitos ônibus no serviço de transporte urbano, a maioria é servida por “Vans” ao preço de US$ 1,00.
Em “Curaçao” como também nas outras ilhas das “Antilhas Holandesas” , não precisa trocar dólares pelos florins, (moeda local), a moeda americana é corrente em todos os lugares.
Anoitecer em Curaçao
Tivemos uma agradável visão da cidade, ela é linda como um presépio. Muito limpa e com pitoresca arquitetura holandesa. Nossa entrada triunfal só foi interrompida por alguns minutos quando a curiosa e interessante ponte móvel com pilares sobre boias tipo barcaças começou a se mover para a passagem de um veleiro e um grande navio de turismo, mas tivemos a opção grátis de usar os “Ferrys” que fazem a travessia do canal do porto quando a ponte esta interditada aos pedestres.
Mambo Beach
Mambo Beach
Conversamos com alguns nativos e nos foi recomendado o “Hotel San Marco”, muito bem localizado e com preço bem razoável se comparado com a média local, US$ 73,00 a diária para casal. Depois de um gostoso banho e vestir roupas limpas, saímos para um passeio a pé pela linda e agradável cidade. Em um bar restaurante ao ar livre, situado em uma praça ao lado do pequeno porto, nossa atenção foi tomada por um grupo de músicos que tocava agradáveis melodias caribenhas. Sentamos bem próximo, mas em um banco da praça, e ali ficamos apreciando e aplaudindo a afinada banda quando fomos surpreendidos pelo vocalista do grupo que gentilmente disse que oferecia a música “Feeling” ao “Sympatic couple over there”, que eram a Miriam e eu.  Após sermos agraciados por mais algumas músicas, fui agradecer dizendo da coincidência dele oferecer para nós brasileiros, uma música em inglês, mas composta por “Maurício Alberto Kaisermann” que adotou o nome artístico de “Morris Albert” um musico também brasileiro. Ele nos confessou que era fã incondicional das nossas músicas, mas jamais imaginava que uma música tão famosa no mundo inteiro e escrita em inglês, fosse composta por um brasileiro. Ele muito simpático retribuiu o agradecimento e voltou para o palco onde depois de mais uma seleção musical anunciou publicamente nossa presença “From Brazil” e nos ofereceu  mais uma linda música, “Garota de Ipanema”. Foi realmente o mais fantástico “WELLCOME” recebido nesta viagem.
Thiel Beach

24 de Novembro
O dia não amanheceu ensolarado, algumas nuvens insistiam em cobrir o costumeiro sol caribenho, mas mesmo assim tomamos o ônibus rumo à praia de “Mambo Beach”. A praia é maravilhosa, mas tem uma particularidade interessante que nós brasileiros não estamos acostumados. A praia é particular e se paga ingresso para entrar, porém em contrapartida a estrutura é de ficar boquiaberto. Ela fica bem ao lado do “Sea Aquarrium” tem um sofisticado hotel, um lindo trapiche de onde saíram dezenas de grandes e lindos barcos lotados de mergulhadores e ainda um belo bar e um amplo restaurante. O preço é apenas US$ 3,00 e mais outros  US$ 3,00 se quiser utilizar as confortáveis cadeiras que mais parecem camas.
Vista do porto de Curaçao
As nuvens se afastavam de tempo em tempo, e davam lugar ao forte sol, algumas vezes elas voltavam e descarregavam uma forte, mas refrescante chuva sobre nós, todos corriam para se proteger nas cabanas dos bares e restaurantes e após pouquíssimos minutos a nuvem partia e novamente o sol retornava com toda sua plenitude. Em uma destas cabanas durante um dos intervalos das chuvas, conhecemos uma jovem brasileira dentista que se casou com um caribenho e mora aqui na ilha a mais de 18 anos, ela leva regularmente seu filho à “Mambo Beach” onde ele recebe aulas públicas de natação. Quando perguntei se ela pensava em voltar ao Brasil, ela respondeu com outra pergunta: Por que alguém deixaria este paraíso? Vou ao Brasil só para visitar meus parentes retrucou.
Curaçao
Ficamos o dia todo na praia, só saímos quando o dia começou a se despedir e a bela noite começou a nos cumprimentar convidando para um romântico jantar. Saímos do restaurante e ficamos vagando sob o luar desta pequena cidade. Atravessamos pelo interior do luxuoso hotel cassino onde um animado conjunto de “mariachis” cantava músicas mexicanas. Do lado oposto ao cassino, passamos por vários, lindos e finamente decorados restaurantes, todos (Seafront) com romântica vista para o mar. Como já havíamos jantado, prometemos retornar para o jantar na noite seguinte.

25 de Novembro
Esta manhã, nós fomos brindados com a visão de um lindo arco-íres. A brisa da noite deve ter dispersado as poucas nuvens e o sol se mostra mais presente sobre esta pequena ilha.
Mambo Beach
Após o café da manhã visitamos o comércio local, onde a Miriam comprou algumas lembranças, enquanto eu aguardava abrir os bancos para trocar por dólares alguns euros que ainda tinha em minha carteira. Os nativos usam o “Florim” antiga moeda holandesa que ainda é usada em toda Antilhas Holandesas. Caminhamos até o pequeno terminal para desta vez tomar o ônibus para a praia de “Jan Thiel Beach” que fica na baia de Caracas, e como a anterior, também é paga. Mesmos preços e mesma estrutura, só que esta não é uma praia natural, ela foi construída, a borda é igualzinho a uma piscina, inclusive as escadinhas para entrar na água, e construíram também uma pequena rampa, mais rasa, com mais ou menos 10 metros de largura para as crianças e idosos.
Voltamos para “Willemstad” em uma “Van” e foi bastante curioso, pois em uma pequena ilha quase todos se conhecem e o motorista por varias vezes desviou da rota original para deixar alguns passageiros na porta de casa.
Thiel Beach
Durante as noites tem feito uma temperatura  muito agradável e nesta gostosa noite de quinta feira, parece que toda a ilha ouviu o “Canto da Sereia” e resolveu sair também.  A cidade está lotada de gente. Em vários pontos tem afinadas bandas tocando ao vivo. Parece que toda a cidade está em festa. Curtimos o alegre ritmo caribenho de uma das bandas que se apresentava em um pequeno palco próximo a ponte móvel até que bateu a fome, então seguimos para o “Waterfront” onde tínhamos visto na noite anterior, vários restaurantes com visual bastante romântico.

26 de Novembro
Abou Beach
Hoje é nosso último dia nesta ilha e não tivemos tempo de conhecer outras partes deste pequeno paraíso então consultamos por telefone uma empresa que faz um “Jeep Tour” por toda a região, porém só saem com grupos de 6 pessoas ou mais e eles não deram certeza se iam sair ou não. Então optamos em alugar um carro e dar a volta na ilha por conta própria, percorrendo todas as praias que ainda não conhecíamos.
Na praia “Forti”, tem um mirante onde podemos nos deliciar com uma vista fantástica. A praia mais bonita é “Abou” e as demais praias, como “Laguna” e “Santu Pretu” não tem muito acesso para banhistas, são praticamente para mergulhadores e na praia de “Hundu” construíram um grande “resort” e uma praia artificial e também uma grande estrutura para quem pratica o esporte de mergulho. A ilha é realmente pequena, com pouco mais de quatro horas já estávamos de volta ao ponto de partida.

27 de Novembro
Nosso vôo para Caracas foi à tarde então tiramos a manhã para relaxar, tomar algumas saborosas cervejas holandesas e a Miriam comprou algumas lembrancinhas para os familiares.
Shopping Sambil
Desembarcamos no aeroporto “Simon Bolívar” e desta vez optamos pelo ônibus porque já estamos com o nosso orçamento estourado. Ônibus para Caracas US$ 2,00 e metrô até o hotel, US$ 0,20, não é tão confortável, mas bem mais barato que os vinte dólares cobrados pelo taxi. Depois de um revigorante descanso, fomos a uma “Rumberia” chamada “Mambo” que fica no mesmo prédio do hotel onde aproveitamos a boa música as danças e os baixos preços das cervejas e coquetéis que curtimos até alta madrugada.

28 de Novembro
Plaza Francia - Chacao Caracas
“Tudo que é bom, dura pouco”. Hoje é nosso último dia de férias, parece que não somos os únicos a ficar triste por ter que ir embora, o dia amanheceu garoando como se despejasse lagrimas sobre nós chorando a partida. Em um dia assim meio melancólico, nada melhor do que passear no “shopping Center”. Pedimos no hotel para fechar nossa conta e guardar nossas mochilas e tomamos o metrô para a estação “Chacao” onde, tivemos uma agradável surpresa sobre Caracas. “Chacao é uma região limpa, bonita, organizada e bastante sofisticada. Quase como a região dos jardins em São Paulo. O “shopping Sambil” é o quarto maior shopping da America do Sul, tem mais de 500 lojas em uma área de 250.000m2 e todo cheio de gente bonita e bem vestido. Visitamos também outro centro comercial a umas três quadras de distância do “Sambil”, chama-se “Centro Comercial Santo Ignácio” onde se encontra todas as famosas marcas como: “Louis Vuitton, Mont Blanc, Chanel, Dior, Gucci, Hermès, Prada” e etc. Este bairro veio tirar um pouco a desagradável impressão que tivemos sobre Caracas quando caminhamos pelo centro em meio a milhares de “Camelôs”. Enfim, Caracas ainda tem sua região elegante e bonita.
Interior do Shopping Sambil
No geral, o contraste entre as ilhas das “Antilhas Holandesas” e a Venezuela é gritante. Em Curaçao, como também em Aruba que tive o prazer de conhecer em viagem anterior, o turista sente segurança, tudo funciona e a estrutura turística é muito bem cuidada e explorada. A Venezuela quase que conta somente com sua inquestionável beleza natural. Por algumas vezes fomos aconselhados a não andar por um lugar ou outro, que era “Muy Peligroso”, mas a verdade é que em momento algum sentimos insegurança ou medo, mesmo caminhando em regiões mais pobres fomos muito bem recebidos.
Apesar do abandono das autoridades públicas, vale a pena visitar este país que tem sua maior riqueza dentro do coração de seu próprio povo com suas tradições, culturas e um jeito simples e amável de ser.

Até a próxima viagem
Osmar e Miriam

sábado, 14 de abril de 2012

Caminho de Santiago

O CAMINHO DE SANTIAGO DE COMPOSTELA 

                                                                                    INTRODUÇÃO
Apóstolo em latim significa “enviado” e conta a história que após a morte de Cristo, São Tiago foi enviado para os confins da península ibérica, região que hoje é a Galícia, para transmitir as mensagens do Cristianismo, e Tiago deixou plantada nestas terras distantes a primeira semente do que viria a florescer pelos séculos futuros.
 Retornou a Palestina e no ano 44 morreu como mártir, decapitado por ordem do Rei Herodes. Seu corpo insepulto foi recolhido por dois de seus discípulos, Teodoro e Atanásio. Como Tiago havia manifestado o desejo de ser enterrado em terras ibéricas, diz a lenda que seus dois discípulos transportaram seu corpo para a Espanha. Após desembarcar na costa da Galícia subiram o rio “Ulla” e o enterraram no “Monte Libredon”.Com o tempo o fato foi caindo no esquecimento até que no ano 813 um monge chamado Pelayo, retirou-se para viver como eremita nessa mesma região.

Sobre uma colina no bosque de Libredon havia duas antigas necrópoles (cemitérios) abandonadas, uma Romana e outra Visigótica, avistando uma chuva de estrelas que parecia cair sobre essa colina, Pelayo interpretando esta visão como um sinal divino, foi examinar o local e ali encontrou o velho sepulcro. Informou então ao bispo Galego “Teodomiro” que o havia achado em um campo de estrelas, isto é (Campus Stellae) em latim que deu origem a palavra Compostela. 

O bispo, pelas inscrições do sepulcro, confirmou que se tratava do túmulo do apóstolo Tiago e foram também identificados os túmulos de Teodoro e Atanásio, os discípulos de Tiago.

O Rei de Astúrias, Afonso ll, no ano 829 após tomar conhecimento da descoberta, nomeou São Tiago como patrono oficial da Espanha e ordenou a construção de uma capela de pedra sobre o sepulcro.

A partir de então, o local se transformou em um centro de referência para toda cristandade, e passou a atrair visitantes de todos os pontos do planeta que queriam seguir o caminho das estrelas para ganhar o perdão de seus pecados. (Campus Stellae), pois todo este trecho fica sob a “Via Láctea”.

Existem também o Caminho Aragonês, a rota da costa, o caminho do Oriente, o caminho Inglês e o caminho Português.

Conta-se que o Imperador Carlos Magno fez o caminho francês, inaugurando este itinerário Jacobeu. Além de seu significado espiritual, o Caminho de Santiago foi declarado em 1993 “Patrimônio da Humanidade”
Os primeiros caminhantes peregrinos partiam da Suécia, Polônia, Países Baixos, Turquia, Irlanda e Grã-Bretanha. Quase todas as suas ramificações confluem na França, em “Saint-Jean-Pied-de-Port” e dali seguem até a Galícia em um único fluxo sempre seguindo o caminho do Sol e da Via Láctea, este trecho, é composto de aproximadamente 800 km. e toma cerca de 30 dias para realizá-lo.

Essa corrente de peregrinação aumenta a cada Ano Jubilar. Isto acontece todos os anos em que o dia do Apóstolo, (25 de Julho) cai no domingo. Ou seja, o ultimo ocorreu em 2010 e o próximo será em 2021.

APRESENTAÇÃO

Decidido a trilhar mais esta aventura, convidei um velho amigo, José C. Frigo, que já havia participado de outras caminhadas. Alguns anos antes meu filho mais velho, Osmar Luiz Jr.,  organizou um pequeno grupo e percorremos a “Trilha Inca”  no Peru, a Trilha de “Torres Del Paine” na Patagônia Chilena e a Trilha do Ouro aqui no Brasil. O Frigo aceitou de pronto. Como reservamos 15 dias para o caminho, decidimos por iniciá-lo em “León” na Espanha, percorrendo portando aproximadamente 330 Km. Marcamos a data, fizemos algumas pesquisas e no dia 28 de abril as 19h40 partimos em um vôo da Ibéria de São Paulo em direção a Madrid.

29 de Abril
As 10h30. (hora local) desembarcamos no aeroporto de “Bajaras”. Este aeroporto é enorme, com muitas esteiras rolantes para agilizar a mobilização e inclusive um trem interno para ligar um terminal ao outro. Sob o aeroporto existe a estação do Metrô, simplificando muito o acesso ao centro de Madrid.

Tomamos o Metrô a um custo de dois euros e desembarcamos na estação “Mendez Alvaro”, onde fica o terminal de “autobuses”, e as 14h30 do mesmo dia, ao preço de 20,50 euros, já estávamos a bordo de um confortável ônibus a caminho de “León”.

Chegamos em “León” às 19h. Infelizmente o tempo não estava tão bom como em Madrid. Alem do vento cortante, temperatura de 14 graus, nós ainda fomos recebidos com uma fina garoa. Hospedamo-nos no “Hostal Horeja”, (30 euros por pessoa) e  após um banho revigorante fomos conhecer a cidade que é muito linda, limpa e com uma arquitetura surpreendentemente conservada. A Catedral em estilo gótico é magnífica. Saciamos nossa fome em uma pequena lanchonete onde pedimos um “kebab” pra dois e afugentamos o frio, compartilhando uma garrafa de vinho. (total 15 euros).

Catedral de León
No dia seguinte, 30 de Abril, acordamos um pouco tarde, 10h30m, voltamos à Catedral para conhecer agora o seu interior que é ainda mais fantástico, e também fomos ao Centro de informações turística (Plaza de La Rogla, 3 Fones 987-237082 e 987-273391). Lá fomos muito bem recebidos, nos deram: Guia, Mapa e ainda indicaram o endereço de um albergue grátis, doa-se apenas uma gratificação se assim o desejar. “Refugio H.H.Beneditinas” (Plaza Santa Maria Del Camino, fones: 987-252866 e 680-649289). Preenchemos nossa ficha  e estampamos nosso primeiro carimbo em nosso “Passaporte do Peregrino”. Guardamos nossas mochilas e fomos almoçar. Em vários restaurantes da cidade, ao preço médio de 9 euros, pode-se saborear o farto “menu do dia” que consiste na escolha de um prato de entrada, o prato principal, sobremesa e um copo de vinho ou suco. Fizemos também algumas compras no supermercado local para garantir um jantar mais barato já que o refugio tem uma grande cozinha profissional. Ao por do sol retornamos ao albergue, pois as portas são fechadas as 21h30 e não adianta bater, atrasou, fica na rua.
Na enorme cozinha do albergue, que é o centro de sociabilidade, lá todos se reúnem, bebem, comem e conversam sobre todos os temas imagináveis. Enquanto preparamos uma leve refeição, conhecemos um jovem Alemão que era recém formado e namorava uma jovem espanhola que também vivia na Alemanha. Ele preocupado com o peso da responsabilidade decidiu fazer o caminho de Santiago para refletir e tomar a decisão correta para seu futuro.

01 de Maio
León
Não acordei muito bem disposto como pretendia, o alojamento do refúgio é grande e tinha aproximadamente 60 peregrinos, muitos roncaram a noite toda e o rapaz que dormiu na parte inferior do meu beliche, se mexeu muito e o beliche balançava e rangia muito. As 6h da manhã as luzes foram acesas e todos tiveram que levantar. Foi servido o desjejum com café, chá, pão, geléia e manteiga, tudo grátis mantido pelo Monastério Beneditino, pegamos nossas mochilas, deixamos uma gratificação de 5 euros numa caixinha próximo a porta de saída e partimos iniciando de fato a nossa peregrinação.

Refugio H.H.Beneditinas


Eram 7h, a cidade amanheceu linda e silenciosa com céu de brigadeiro, o painel do relógio eletrônico marcava 2 graus centigrados, mas estava muito agradável para caminhar. A área urbana de “León” é bem expandida, conseqüentemente tivemos que andar muito para sair da cidade e alcançar a área rural, que a partir daí, o caminho segue paralelo a Rodovia Nacional. O trecho é bastante plano com poucos aclives e muito fácil de caminhar. No final da zona urbana, defronte a uma casinha de aparência singela, seus moradores colocaram uma cesta com biscoitos, balas e salgadinhos para que os peregrinos que tiverem fome poderem se servir e fazer um “bocadillo”. Enquanto estava ali, lendo o pequeno cartaz sobre a cesta de guloseimas e tirando algumas fotos, o Sr. Agapito, "el amigo de los peregrinos" proprietário da casa saiu e numa pequena conversa, me disse que sentia muito prazer em ajudar os peregrinos e sua maior recompensa é receber o agradecimento através de algumas cartas que recebe de um sem número de peregrinos espalhados pelo mundo.

Ofertas aos Peregrinos
Sem que me desse conta, já havíamos percorrido 19 km, por isso paramos em um albergue no vilarejo de “Villadango Del Párano”, era bem espaçoso e limpo e com um atendimento muito simpático, porém era cedo ainda e o vilarejo não nos oferecia nada a fazer até a hora de dormir, então consultando o senhor que nos atendeu, ele nos aconselhou que parasse em “Hospital de Orbigo” 11 km mais a frente.

“Hospital de Orbigo” recebeu esse nome devido ao hospital que ali foi edificado para atendimento dos peregrinos. A ponte gótica que liga à cidade é chamada de “Passo Honroso” e foi construída no século XIII.

Nos hospedamos no albergue paroquial “Karl Leisner” e como pagamento, uma pequena contribuição de 4 euros. Somando os dois trechos, caminhamos 30 km. Foi o meu erro, pois é aconselhável começar com trechos mais curto e depois ir aumentando paulatinamente, e eu despreparado, ao parar passei a sentir febre e formigamento nas mãos, as pernas doloridas, os nervos enrijecidos e já não conseguia andar nem mais alguns passos. A moça que atendia na recepção, notando o meu estado, muito prestativamente me ofereceu uma pomada para passar nas pernas e me aconselhou deitar por algum tempo. Após poucas horas já estava me sentindo bem melhor, o Frigo se ofereceu para ir até a venda e comprar alguns mantimentos para o jantar e o café da manhã seguinte. Jantamos uma simples e saborosa macarronada com molho de tomate e atum, comemos frutas e pão, tudo acompanhado de mais um saboroso vinho espanhol.

02 de Maio
Palácio Episcopal de Astorga
Totalmente animado para continuar viagem, mas ainda com um pouco de dores nas pernas, tomamos nosso café e nos pusemos novamente no caminho. Caminhei alguns quilômetros mancando, mas após meus músculos se aquecerem já podia andar quase sem mancar.
Nosso novo destino era “Astorga”, pois é uma cidade relativamente grande e poderia encontrar mais estrutura, o único problema é que são mais 21 km. então combinamos que se as dores voltassem e se não fosse possível caminhar, pararíamos em “Santibañes de Valdeiglessias”, porem como não tínhamos pressa, caminhamos mais devagar e chegamos a “Astorga” por volta das 14h.

Praça Central de Astorga
Fomos direto para o Albergue “Siervas de Maria” que também é mantido por uma instituição religiosa e nos foi pedido uma contribuição de 4 euros. O senhor que nos atendeu foi um português casado com uma espanhola, muito alegre e prestativo, ele nos colocou em um quarto com apenas dois beliches. Ficamos nós e mais dois ciclistas ingleses o Edy e o Will que quando soube que somos brasileiros veio nos mostrar seu repertório musical gravado em seu “I-Podi” com Artur Moreira, um percussionista que não lembro o nome e Ivan Lins que ele é fã incondicional.

Catedral de Astorga
Nesse instante me lembrei que tinha quebrado meus óculos de leitura e também precisava comprar alguns comprimidos que a minha cardiologista havia receitado, então fomos procurar uma farmácia e um supermercado para providenciar nossa refeição. O comercio fecha as 14h30 para a “siesta” e reabre às 17h. Corremos e conseguimos fazer nossas compras, com 15 euros compramos o almoço, jantar e o café da manhã seguinte. O Frigo que é dono de restaurante e experiente na cozinha, caprichou no almoço, macarronada com mexilhão, salada, e como anti-pasto pão italiano com “jamon” ibérico e queijo philadelfia. Fiquei com pena dos outros alberguista que estavam preparando “miojo” macarrão instantâneo.

Depois de um farto almoço e estar com o físico totalmente recuperado saí para tirar algumas fotos. A cidade estava toda enfeitada com as fachadas dos prédios decoradas com a bandeira espanhola, me informaram que era festival em comemoração ao dia da expulsão dos franceses. Visitei a catedral, o palácio episcopal e voltei ao albergue para descansar quando tive outra surpresa, nosso albergue estava recepcionando o congresso dos albergues públicos da região, tinha “Buffet e Cocktail” grátis, ganhamos duas bandejas de Presunto Parma com pão tipo italiano, pegamos nossa garrafa de vinho e ficamos até tarde degustando esse “regalo”.

03 de Maio
Campos de Amapolas
Levantamos cedo, praticamente junto com os primeiros raios de sol que iluminavam os imensos vales lindamente coberto de “Amapolas”. Nossa próxima empreitada, chegar a “Rabanal Del Camino”, mais 20,6 km. Atravessamos os vilarejos de “Marias de Rechivaldo, “Santa Catalina de Somoza”, El Ganso, e finalmente chegamos em “Rabanal Del Camino”.
Fila de mochilas
Na entrada da cidade, uma peregrina solitária nos informou que o albergue “Gaucelmo” é mantido por uma confraria inglesa, não cobra nada e ainda oferece café da manhã. Chegamos à porta do albergue às 14h e já tinha uma fila de 20 mochilas guardando lugar enquanto seus respectivos mochileiros descansavam a sombra de frondosas arvores na praça principal. O “Gaucelmo” abriu suas portas pontualmente às 15h e por sorte fomos instalados, guardamos nossas mochilas e saímos para almoçar eu já estava com fome e iríamos perder muito tempo para comprar ingredientes e preparar o almoço, então procuramos um restaurante local. Um pequeno giro no pequeno vilarejo e uma grande surpresa, os restaurantes do lugar são de um luxo estonteante, dignos de estarem nos melhores pontos de São Paulo, Paris ou Nova York, mas graças a Deus, estão aqui e com os preços daqui.

Ao entardecer, juntamente com o por do sol, o inglês que dirigia o albergue nos convidou para assistir um ato litúrgico na igreja central construída no século XII. A missa foi rezada em latim com algumas passagens em espanhol, inglês, alemão e Frances.

04 de Maio
Queira ou não, hoje tivemos que levantar cedo, uma moça muito bonita, mas não muito educada, alem de roncar a noite toda, antes mesmo das 6h levantou e sem se importar com os outros, começou a desfazer sua cama e arrumar sua mochila, fazendo muito barulho. Aproveitamos nosso desjejum gratuito e seguimos nosso caminho.

Cruz de Ferro
A partir de “Rabanal Del Camino” até “Foncebadon” tem uma grande subida aonde se chega a Cruz de Ferro com 1504 metros de altitude, este é um dos monumentos mais simples, porém um dos mais antigos e emblemáticos do Caminho. Sobre um montão de pedras se levanta uma pequena Cruz de Ferro, presa no alto de um tronco de madeira de uns 5 metros de altura, aqui os peregrinos depositam uma pedra para pedir proteção em sua viagem e também como símbolo de que aqui deixamos todas as pedras que carregamos em nossas vidas. Sabendo dessa tradição, deixei as duas pequenas pedras que trazia desde “León” e junto com elas alguns agradecimentos e uma pequena oração em silencio. Daqui em diante o caminho começa a descer um pouco, “Manjarim” está a 1.145 metros de altitude e é um povoado onde só restou uma família meio “hippie” que ainda vive como se estivesse nos anos 60. Mais 3,7 km de pequenas subidas e descidas e chegamos a “El Acebo”.

“El Acebo”, é um povoado bem agradável, tem armazém, bar, algumas lojas e muitas “Casas Rurais”, são residências transformadas em pequenos hotéis que oferecem diária completa. Aqui procuramos o albergue “Parroquial” mantido com o orçamento da igreja, por isso não cobra nada, apenas um donativo de quem quiser dar. O albergue abre as 15h30 e no momento era 14h então fomos ao armazém onde compramos um vinho por 1,50 euros e com mais 3,50 euros compramos um sanduíche de filão inteiro que dividimos em dois. Feito o saboroso “bocadillo” voltamos ao albergue para tomar um merecido banho e sair para fotografar o vilarejo.

Jantar em El Acebo
Ao retornar ao albergue, encontramos a hospedeira fazendo o jantar, nós nos oferecemos para ajudar como retribuição de toda amabilidade que recebemos, o Frigo como é do ramo, foi ajudar na cozinha e eu fui arrumar a mesa. Pontualmente às 19h estavam quase 20 pessoas à mesa, com todos de mãos dadas, foi feito uma pequena oração em agradecimento e finalmente pudemos degustar o jantar. Este talvez tenha sido a refeição mais agradável até então porque quando há o compartilhamento voluntário seu e de tantas outras pessoas anônimas, pode-se sentir na alma o verdadeiro espírito peregrino. Após o jantar conversamos com um jovem casal de alemães que faziam o caminho junto com um grande, mas muito amável cachorro. Eles tinham partido de “Saint-Jean-Pied-de-Port” e já tinham percorrido mais de 500 km., enquanto conversávamos o rapaz passava carinhosamente uma pomada nas patas machucadas do cão, que aceitava com total submissão.

05 de Maio
Apesar de nosso parco orçamento, não tive coragem de deixar o albergue sem deixar uma pequena gratificação de 5 euros. Nossa próxima meta foi “Ponferrada”, cruzamos “Riego de Ambrós” e “Molina Seca”, porém esta ultima me surpreendeu, “Molina Seca” é um charme de cidade, talvez seja destino turístico de férias de alguns endinheirados da região, parece um presépio acho que valia a pena parar aqui, mas como havíamos combinado ir até “Ponferrada”, fizemos o planejado.

“Ponferrada”  tem esse nome porque na época da reconquista cristã da Península Ibérica, o Bispo de Astorga, Osmundo (1082-1096), fez reforçar a antiga ponte com uma estrutura de ferro, ficando a localidade desde então conhecida como "Pons Ferrata". Junto a esta ponte, na povoação, fez erguer uma igreja sob a invocação de São Pedro, para as devoções dos peregrinos no Caminho de Santiago. A cidade é relativamente grande, chegamos por voltado meio dia e o albergue só abre suas portas às 15h então pedimos a uma moça peregrina,  que tomasse conta de nossas mochilas enquanto íamos fazer as compras pro almoço e o jantar e retornamos pro albergue onde fizemos nosso lanche, um banho reanimador e partimos para desbravar mais esta bela cidade, encontramos um simpático casal de meia idade que morava em Campinas, interior de São Paulo, que estavam fazendo o caminho pela segunda vez.
Castelo dos Templarios

Aqui existe um dos castelos mais espetaculares que eu já vi, castelo com cara de castelo e não aquelas fortalezas que mais parecem coisas de exércitos antigos. Um castelo de cinema como nos contos de fada. Conta-se que este lindo imóvel foi doado aos Templários em 1185 pelo rei Fernando II, encarregando-os da missão de defenderem os peregrinos naquele trecho do Caminho, depois em 1282, a primitiva fortificação foi reconstruída e ampliada à época pelos monges-cavaleiros.
Castelo dos Templarios

Diante da extinção da Ordem, em 1311, registrou-se a disputa da fortificação e seus domínios entre as famílias nobres mais poderosas da região até que o rei Afonso XI de Castela doou-o a Pedro Fernandes de Castro em 1340, e daí se manteria nas mãos dos Castro até 1374. A partir desse ano, a posse do castelo transitou entre diversos e sucessivos membros da família real. Entre 1995 e 2002, com recursos oriundos do Ministério de Cultura, da Junta de “Castilla y León”, da “Diputación Provincial de León” e do próprio “Ayuntamiento de Ponferrada”, executou-se um vasto projeto de intervenção arqueológica, restauro e requalificação do monumento. Atualmente no castelo funciona o “Museo del Bierzo”, com a exposição "Recuperación del Castillo de los Templarios". O conjunto abre ao público de terça a domingo, oferecendo aos seus visitantes, atividades culturais, educativas e de lazer além de restaurante e café. Visitamos também a Basílica de “Nuestra Senhora de la Encina” e ao retornar ao albergue, reencontrei a moça que tomou conta de nossas mochilas, que disse se chamar “Manon Doucet” e que era Canadense de “Sherbrooke” província de Quebec, o lado Frances do Canadá, trocamos o inglês pelo frances e pudemos conversar e compartilhar conhecimentos sobre nossos países e sobre o Caminho de Santiago enquanto o Frigo preparava uma suculenta sopa que tomamos acompanhado de pão e vinho.   

06 de Maio
Atravessando os campos de Vinhedos
Combinamos hoje de caminhar 22,4 km. que é a distancia até “Villafranca del Bierzo”. Este trecho não é muito irregular, apesar de ser montanhoso, são pequenas subidas e pequenas descidas e tudo ladeado de imensos vinhedos. Não muito longe da cidade passamos por uma vinícola que tinha uma placa a porta oferecendo aos peregrinos uma taça de vinho grátis. Entramos e provamos o saboroso vinho que nos revigorou e deu mais ânimo e energia para caminhar. No vilarejo de “Cacabelos”, uma linda e grande casa antiga me chamou a atenção, era um antigo hospital que hoje foi transformado em hotel, loja, galeria de arte e café. Entramos para visitar e por sermos peregrinos nos foi ofertado um saboroso pedaço de torta e um copo de vinho. Descansamos nos jardins do belo imóvel e saímos, não sem antes agradecer a garota que nos ofertou a torta e o vinho, como ela tinha algumas moedas estrangeiras sobre a mesa, perguntei se era coleção. Com a resposta afirmativa, ofereci uma moeda de 1 real que trazia no bolso. Com um grande sorriso e um abraço pude sentir a felicidade da atendente com este simples gesto. Andamos mais 8 km  e chegamos ao nosso destino.
Saboreando trutas no Albergo Ave Maria
Em “Villafranca del Bierzo” o pessoal voluntariado que atendia no “Albergo Ave Maria” eram todos brasileiros. Fiquei curioso e fui perguntar a razão, a senhora me disse que eram amigos do proprietário e fizeram uma troca, o alberguista foi com a família passar as férias no Brasil e ela com o marido ficaram tomando conta do “Albergo”. O outro brasileiro que atendia na recepção, preenchia o livro de hospedes, direcionava aos leitos e carimbava os passaportes era muito brincalhão, um verdadeiro maluco, e gostava de “tirar o sarro” de todos os estrangeiros que não fossem brasileiros ou espanhóis, e fingia falar alemão, koreano ou russo, ninguém entendia nada, mas o sorriso envolvente e a alegria exageradamente contagiante, deixavam todos rindo e confiando que tudo estava certo.
Este albergue é privado, por isso pagamos 6 euros por pessoa para a estadia e mais 6 euros pela ceia opcional. Depois que quase todos já tinham jantado e recolhido aos aposentos, fomos convidados pelos nossos anfitriões para degustar umas trutas que foram preparadas especialmente para nós.
07 de Maio
Depois do café “Buffet” simples e farto, ao preço de 2,50 euros, o Frigo combinou com o motorista do albergue de transportar nossas mochilas, já que ele ia até o “pueblo” de “Cebreiro”, 30 km a frente no topo de uma montanha a 1.300 metros de altitude, realmente seria muito mais fácil vencer esta constante subida sem as mochilas. Retiramos apenas nossas blusas e capa de chuva e novamente botamos o pé no Caminho.
Saindo de León e Castela
entrando na Galícia
Cruzamos a pequena cidade de “Villafranca del Bierzo” fotografando suas igrejas e seus monumentos históricos e logo nos vimos entrando em uma região montanhosa com os cenários mais exuberantes até este momento. Passamos por outros pequenos “pueblos” e finalmente chegamos a “Cebreiro” já no por do sol, esta é a primeira cidade dentro da verdejante região de Galícia, aqui deixamos para traz Leon e Castella.
08 de Maio
O frio é imenso e a melhor maneira de amenizá-lo, é pondo o corpo em movimento, tiramos algumas fotos do “Cebreiro” e partimos para  “Tricastella” a 23 km.
O Cebreiro
Este trecho é todo montanhoso, e apesar de nosso destino estar mais abaixo, não se chega lá sem subir e descer algumas montanhas bem íngremes. O trecho é bem estafante e ainda fomos recepcionados pelo frio e pela chuva, mas a paisagem faz tudo valer a pena.
Depois de preenchida as fichas no novo albergue é que soubemos que este não tinha cozinha, então fomos ao centro de “Tricastella” onde tomei a tradicional sopa galega, trutas, uma garrafa de vinho e mais sobremesa, este é o menu do peregrino que paguei 8 euros por ele.
É bom lembrar que na Galicia todos os albergues mantidos pela província cobram 6 euros como taxa de manutenção, mas entregam aos peregrinos uma capa de tecido descartável para o travesseiro e outra para o colchão. Alem de ser mais higiênico e saudável, nos dá mais conforto para dormir sem ficar apertado dento do nosso saco de dormir.
Este albergue tem duas lavadoras e duas secadoras automáticas que funcionam com moedas, e como eu precisava secar minhas roupas que umedeceram devido a chuva ter penetrado na mochila coloquei as roupas dentro da maquina, depositei as moedas e ai é que percebi que tinha cometido um erro. Coloquei minhas roupas na lavadora e as roupas que estavam úmidas ficaram encharcadas e ainda perdi 4,40 euros.
09 de Maio
Hoje não acordei bem, um resfriado muito forte já me acompanha por algum tempo e pra ajudar a chuva continua. Vesti minha capa e minha mochila e seguimos para “Sarria”, nosso próximo destino. Este trecho também é montanhoso, mas a maior parte do tempo é descida. Ainda bem que a paisagem é muito bonita para compensar a melancólica chuva constante, os espirros, o nariz escorrendo e ainda caminhar na lama misturada com o estrume do grande número de vacas que tem nesta região, realmente não foi muito agradável, mas ainda acho que esta valendo a pena.
cidade de Sárria
“Sarria” não é um simples “pueblo”, é uma cidade com um grande comércio e um rio cristalino que corta o centro. O tempo continua ruim e não achei bons ângulos para as fotos, vou esperar até amanhã para ver se o tempo e a minha gripe melhoram para tirar melhores fotos.
Curiosa árvore
Estava descansando no albergue, quando uma moça de nome Luciana, me ouviu falar em português e veio conversar conosco. Disse que morava em São Paulo e que trabalhava com informática, mas não gostava do que fazia, então pediu a conta do emprego e foi para o Rio de Janeiro fazer um curioso curso de meditação onde passou 10 dias em uma chácara com um grupo de outros alunos sem falar uma única palavra, toda comunicação era feita por gestos. 2 horas parada meditando e o resto do dia as atividades normais, como arrumar a cama, cozinhar, cuidar da plantação, sempre sem falar uma única palavra. Uma mulher ficar 10 dias sem falar, não acho que seja um curso, acho que é penitência. Mesmo assim ela não conseguiu “se encontrar”, então vendeu o carro e veio fazer o Caminho de Santiago. Disse também que conheceu muitos rapazes e em especial um de Barcelona e que estavam enamorados. O rapaz estava fazendo o caminho de bicicleta então eles haviam temporariamente se separado.
lindo trecho do caminho na Galícia
Como essa conversa se desenrolou toda na cozinha do albergue enquanto o Frigo preparava o jantar, ela cansada de comer “miojo” ou outras comidas de pacotinho perguntou se no dia seguinte não poderíamos dividir a conta do jantar em três, afinal ficaria mais barato. O Frigo respondeu: Por mim tudo bem, mas não demorou muito o seu enamorado príncipe encantado chegou em um reluzente cavalo branco chamado Taxi e ela toda feliz correu saltitando para os seus braços e saíram, e nós não os vimos mais. Esses são os mistérios que acontecem pelo caminho, mesmo quem não consegue “se encontrar”, acaba sendo “encontrada”
10 de Maio
milenar local para descanso
O barulho do pessoal no albergue me fez acordar cedo, abri a janela do dormitório e a desagradável visão, a chuva continua caindo sem parar, não eram 7h e eu já estava pronto a caminho de “Portomarím”, nosso novo destino. Este trecho também é acidentado, muitas subidas e poucas decidas e todo na lama e sob a chuva, não é novidade, mas como o cenário é lindo, fico imaginando como seria sob o sol. O frio estava cortante, entre 5 a 8 graus, só parei para vestir a blusa sob o meu casaco corta vento e por volta das 14h30 chegamos a “Portomarím”
Logo na entrada da cidade já se avista a grande ponte construída em 1960 sobre a represa que encobriu a velha cidade, e mais acima sobre uma colina, a nova cidade totalmente reconstruída nos tempos do ditador “Franco”.
Igreja de Portomarim
Calçadas de Portomarim
A igreja em estilo românico foi desmontada pedra por pedra e depois remontada em seu novo lugar. As lojas comerciais ao lado da grande praça e da larga avenida são todas com esplanadas cobertas e arcadas, dando uma beleza impar a esta cidade. Na cozinha do albergue, um grupo de espanholas e um professor também espanhol juntaram-se a nós e ali ficamos conversando e saboreando alguns vinhos da região até mais de 10h da noite.

11 de Maio
No albergue em Portomarim
Hoje apesar do frio, já não chove. É razão suficiente para ficar muito mais animado. Deixamos o centro da cidade e atravessamos uma estreita ponte sobre o rio “Minho” e iniciamos uma interminável subida. O desnível topográfico deste trecho também é bem acentuado, mas são apenas 23 km. para alcançar “Palas de Rei” nossa próxima parada. Este trecho do caminho atravessa vários bosques e riachos com cenários cinematográficos. Aqui próximo, no século XVI existiu um hospital de peregrinos que atendeu o Imperador Carlos I e seu filho Felipe II, os mais ilustres peregrinos dessa época.
Apenas um quilômetro antes de “Palas de Rei”, deparamos com um albergue público de boa aparência, ali nos instalamos. Quando perguntei sobre o uso da cozinha, me lembraram que era domingo e o comercio fecha, podia usar a cozinha, mas não tinha como comprar os ingredientes. Na saída do albergue encontramos outros três peregrinos brasileiros. Um casal cujo marido é médico e mais um rapaz Fiscal do ICMS. O casal fazia o caminho para comemorar os 50 anos da esposa e o rapaz para realizar um antigo sonho. Ali o casal se despediu e continuou viagem e o Paulo, o fiscal, ficou no mesmo albergue que nós então combinamos de caminhar juntos no dia seguinte.
trecho do caminho
Em “Palas de Rei”, procurei um telefone público para ligar para minha esposa, pois hoje é dia das mães e não poderia deixar que esta data ficasse em branco. Na saída da cabine, deparei com a turma de espanholas e o professor José Luiz, que disse estarem hospedados ali próximo, então combinei de passar no albergue deles para todos caminharmos juntos no dia seguinte.
12 de Maio
Hoje acordei muito cedo, fui o primeiro a levantar, não sabia as horas, mas estava escuro. Fui ao banheiro que obviamente estava vazio. Ao voltar para deitar novamente vi que inúmeras pessoas já se levantavam também, então fui fazer minha mochila e botar o pé no caminho.
Ponte milenar em estilo romanesco 
Nosso novo companheiro, Paulo o fiscal, também já estava pronto, então seguimos para o centro de “Palas de Rei” para nos juntarmos com o outro grupo.
O animado grupo caminhava conversando sobre os mais variados assuntos quando o professor sugeriu não pararmos em  “Melide”, pois esta parte do caminho é quase todo plano e poderíamos alcançar “Arzua” sem muito esforço, eu concordei, mas quando passamos por “Melide” me arrependi pois a cidade é bonita e valeria a pena dedicar algum tempo a ela, alguém sugeriu almoçar em “Melide” afinal a oferta de restaurantes é grande e os pratos pareciam bem apetitosos. Todos concordaram então nos sentamos à mesa de um amplo restaurante especializado em comida regional. Por 8 euros eu saboreei um prato local a base de polvo, “Pulpos a la Plancha” acompanhado de um bom vinho e isso me dá água na boca todas as vezes que me lembro. Terminado o intervalo do almoço seguimos caminho para “Arzua”.
Conhecer gente nova sempre nos abre a mente para a cultura e fico bastante agradecido ao professor a verdadeira aula que recebi sobre uma série de assuntos, como sobre a vegetação e sobre a arquitetura, saber diferenciar uma construção milenar se é de origem Celta ou se é Romana, e sem perceber já havia caminhado mais 30 km. e chegamos em “Arzua”.
Neste ponto o Caminho Frances se junta ao Caminho do Norte, e é cada vez maior o numero de peregrinos que se vê no caminho ou na cidade.
Como chegamos tarde e cansados, por volta das 18h, pois praticamente fizemos duas etapas em um dia, preferimos não ir à restaurante para jantar, compramos alguns pães, vinhos e queijos local e ficamos descansando sentados à mesa sobre a calçada defronte ao albergue fazendo o “bocadillo” e sendo carinhosamente acariciado pelos débeis raios de sol que insistiam em nos aquecer até mais de 8h da noite.
Palas de Rei
Este albergue é privado, pagamos um pouco mais caro, quase 10 euros por pessoa, mas tem a vantagem de ter lavanderia. Aproveitamos para lavar nossas roupas e botas para chegar a “Santiago de Compostela” bem apresentado, com roupinha de missa.
13 de Maio
Hoje ao acordar, não tive vontade de levantar, esperei quase todos se levantarem para daí ter coragem de fazê-lo. Acho que sei a razão, é a tristeza de saber que o caminho já está quase no final, apesar das dificuldades, é curioso, mas eu fui pegando amor pelo caminho e agora me sinto como se estivesse me despedindo desse grande amor.
Palas de Rei
Saí à porta do Albergue e me deparei com muitos peregrinos, quase uma procissão, que passava pela calçada a minha frente. O tempo amanheceu nublado e não tardou muito começou a chover. Após alguns minutos de caminhada já estava na área rural, mais lama e o desgosto de sujar as botas e as calças novamente.
O caminho continua com bosques e campos e quando chegamos próximo a “Arca” o caminho margeia a rodovia. “Arca” e o centro do município de “O Pino”, com população inferior a 5.000 habitantes, é o último município antes de “Santiago de Compostela”.
Nossos amigos de Peregrinação
O Frigo se queixava muito de dor no calcanhar provocado por um “esporão”, crescimento anormal do osso do calcanhar, e eu com dor nos pés, então decidimos dormir em “Arca”. O professor e o resto do grupo resolveram seguir avante.
Registramos-nos em um albergue público. Após fazer a ficha o que eu mais queria era um bom banho. Mochilas desfeita roupa nova, toalha e sabonete na mão me dirigi aos boxes dos chuveiros quando vi que os boxes não tinham portas e era de uso misto, rapazes e moças tomavam banho naturalmente sem o menor constrangimento, coisas de Europeu e praticamente inimaginável no nosso Brasil. 
Minhas pernas parecem ter acumulado um pouquinho de dor por dia e agora resolveu apresentar todas de uma vez. Quando paro, os músculos se contraem e fica difícil retomar a caminhada.
Paisagens Galegas
14 de Maio
Tomei suco de frutas e comi um farto sanduíche que fiz com os ingredientes que compramos no supermercado no dia anterior, sobraram algumas frutas e iogurtes que coloquei na mochila e saímos caminhando meio preguiçosamente, pois é nosso último dia no caminho e eu não tinha pressa nenhuma em terminá-lo.
Poderíamos chegar a Santiago de Compostela ainda hoje, mas certamente não chegaríamos antes do meio dia, hora da missa do peregrino, então paramos em um grande albergue a apenas uma hora antes da catedral, local este chamado de “Monte do Gozo”. É sem dúvida o maior albergue que conheci em todo o caminho, têm 1.968 leitos privados, 400 leitos públicos e mais de 100 vagas protegidas para guardar bicicletas. Aqui tem restaurantes, lavanderia, lojas de “souvenir” e internet café. Tudo dentro da enorme área do albergue que é praticamente uma cidade onde a população se renova todos os dias.
"Orreo" Espécie de celeiro
Como eu continuava com dores nas pernas, fiquei incumbido de providenciar a lavagem e secagem das roupas na lavanderia local, o Frigo com o Paulo foram procurar um mercado para comprar vinho e ingredientes para o almoço, pois a única coisa que não tinha na área do albergue era mercado e é fácil de entender, com dois grandes restaurantes eles não querem concorrência. Quando o Frigo e o Paulo chegaram, fomos direto pra cozinha onde acabamos compartilhando nosso almoço com um casal de australianos, e ali ficamos todos em uma “roda de papo” onde juntaram mais duas senhoras belgas e uma moça alemã com sua tia que não entendia uma palavra sequer, e a sobrinha fazia as traduções. O Frigo foi constantemente elogiado pelo saboroso “Risoto com vinho” que estava muito bom.
15 de Maio
Hoje é o grande dia, completamos esta hora final de caminhada toda dentro do perímetro urbano da cidade, que é bem grande, passamos por varias e largas avenidas e grandes praças, de repente uma pequena desatenção e pronto, perdemos as setas amarelas indicativas do caminho. Veja que irônico, mais de 330 km sem errar a direção e depois a poucos metros da grande Catedral, nos perdemos. “Quem tem boca vai a Roma”, quero dizer, a Santiago. Perguntamos a direção a um transeunte e este nos colocou no caminho certo novamente, estávamos bem “cerca”. Assim que visualizei a Catedral, vi que ela é majestosa e com o seu interior ainda mais majestoso. O portal com a imagem de Deus e abaixo a imagem do apóstolo Tiago e rodeada de incontáveis esculturas magnificamente esculpidas. O altar enorme com a imagem do apóstolo ao centro e sob a imagem, a urna com os restos mortais de Tiago.
A construção da catedral foi iniciada em 1.075 em estilo românico e acrescida com outros estilos, como o gótico a cerca de 300 anos atrás.
Catedral de Santiago de Compostela
Como chegamos cedo para a missa, tive tempo para ir carimbar o passaporte do peregrino e receber minha “compostelana”. Voltei ao interior da catedral para cumprir o ritual de “abraçar o Santo”.
A igreja estava lotada, ficamos em pé. Uma freira começou a preparar os fieis para o ritual da missa, ensinando alguns cânticos em latim e depois citar a nacionalidade e de onde partiram os peregrinos que assistiam aquela missa. Após ouvir minha citação, assisti a missa emocionadamente.
O ambiente, os cânticos, o momento, tudo emociona. Pedi perdão por meus pecados e me comunguei, coisa que não fazia já há algum tempo. Quase no final é balançado o “botafumero”, o gigantesco incensário balançado por quatro monges fecha o ritual religioso.
Imagem de Deus a porta da Catedral
Após a missa os peregrinos ficam tirando fotos e caminhando pelo interior da igreja que vai aos poucos se esvaziando, ai acontece momentos de grande euforia, pois a gente vai encontrando inúmeras pessoas que nos cruzaram o caminho, ou que compartilharam o alimento ou agradáveis e intermináveis conversas nos albergues. Todos se abraçam, choram e trocam e-mail esperando rever algum dia. Ao caminhar pelas estreitas “ruelas” do agradável centro histórico, a cena se repete. O reencontro de pessoas que se viram e passaram por nossas vidas durante a caminhada, se abraçam emocionadamente como se fossem velhos amigos. É um momento mágico e alegre, com muitas piadas, brincadeiras, e novas promessas de se reencontrar.
Urna com os restos mortais de Tiago
Interior da Catedral
É uma pena saber que depois de voltar ao trabalho e ao estresse do dia a dia, muitos não encontram mais tempo para as coisas simples da vida, mas sempre fica na memória a imagem dos amigos que fizemos, a lembrança da solidariedade que recebemos e a saudade disto tudo que faz com que o caminho seja tão mágico. Tenho certeza que me transformei em uma pessoa melhor.
Procurei por um “locutório”, cabine telefônica e telefonei para minha família para informar que havia terminado minha peregrinação. Realmente estou feliz, pois depois do infarto que sofri alguns anos antes da viagem, estava me sentindo incapacitado e um pouco inútil, mas esta prova de resistência, de fé e as meditações pelo caminho devolveram-me a certeza que ainda posso ser útil e ajudar os meus familiares, filhos e netos a serem ainda mais honrados, justos e felizes. Almoçamos todos juntos, eu Osmar, o Frigo, o Paulo e o professor José Luiz.
16 de Maio
Queima das roupas velhas e desgastadas
Marco final do caminho em Finisterra
Fretamos um Taxi-van e fomos a “Finisterra”, apenas para cumprir um tradicional e antigo ritual de queimar a beira mar as roupas velhas e desgastadas que foram usadas no caminho. A cidade é bem agradável, típica colônia de pescadores com bons restaurantes e um ar de tranqüilidade que da vontade de ficar, mas temos que ir embora.
Finisterra
                              
Adeus a todos e até a próxima viagem.
Osmar.